A vida de São Francisco
/ 15:57 /
O beijo no leproso
Segundo o escritor Gianmaria Polidoro, em “Francisco” (Vozes), entre os anos de 1205 e 1206, não sabemos qual de dois grandes acontecimentos tenha tido a precedência na perturbação da calma eremítica de Francisco, sempre pensativo quanto ao caminho a seguir. Não foi através da meditação que descobriu a estrada certa. Encontrou-a diante de si no exato momento em que se viu envolvido por duas extraordinárias experiências que lhe abriram um horizonte excitante: o encontro com o leproso na planície de Assis e a voz do Crucifixo que lhe falou em São Damião. Em 1206, passeando a cavalo pelas campinas de Assis, viu um leproso, que sempre lhe parecera um ser horripilante, repugnante à vista e ao olfato, cuja presença sempre lhe havia causado invencível nojo. Mas, então, como que movido por uma força superior, apeou do cavalo, e, colocando naquelas mãos sangrentas seu dinheiro, aplicou ao leproso um beijo de amizade. Talvez a motivação para este nobre e significativo gesto tenha sido a recordação daquela frase do Evangelho: “Tudo o que fizerdes ao menor de meus irmãos, é a mim que o fazeis” (Mt 10,42). Falando depois a respeito desse momento, ele diz: “O que antes me era amargo, mudou-se então em doçura da alma e do corpo. A partir desse momento, pude afastar-me do mundo e entregar-me a Deus”.