Cantinho Franciscano

Bem Vindo!

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Senhor, fazei-me instrumento de vossa paz.

A Benção de São Francisco


O pequeno pergaminho de 14 x 10 cm, dado por Francisco a Frei Leão, contém dois textos: de um lado a oração Louvores de Deus e do outro a Bênção a Frei Leão, seu fiel companheiro: O Senhor te abençoe e te guarde, Mostre a ti o seu rosto e tenha misericórdia de ti. Volte para ti o seu olhar e te dê a paz. Embaixo do escrito, Frei Leão acrescentou de próprio punho e com bela caligrafia em tinta vermelha: “O bem-aventurado Francisco escreveu de próprio punho esta bênção para mim, Frei Leão”. As palavras da Bênção de São Francisco correspondem, nas cinco primeiras linhas, quase completamente à benção de Aarão do livro dos Números (Nm 6,22-26). Mas o Santo deixa fora duas vezes a palavra “Senhor” (Jahwe-Dominus), que está três vezes no texto bíblico, tríplice repetição que fez os Padres da Igreja verem uma alusão à Trindade: O Senhor te abençoe… O Senhor te mostre… O Senhor volte para ti… Retomada na liturgia pós-conciliar, ela foi colocada no novo missal como primeira entre as possíveis bênçãos solenes do período “per annum”. Além disso, a leitura de Nm 6,22-26 está nos três ciclos litúrgicos como primeira leitura na festa de 1º de janeiro. Hoje é um bem “recuperado” pela Igreja Católica. A revalorização desta bênção deve então ser muito sentida por todos os que pertencem à família franciscana. Redescobrindo-a e voltando a utilizá-la estaremos fazendo o que fez Francisco ao recuperar uma fórmula litúrgica quase esquecida, considerando-a apta para consolar o amigo na aflição. Usando-a, Francisco descobriu o profundo significado da fórmula e, no modo de usá-la, mostrou que captou precisamente seu sentido original. As palavras que Francisco acrescentou às bíblico-litúrgicas são poucas, mas importantes, porque são pessoais do Santo: “O Senhor te abençoe, Frei Leão”. Essas palavras foram deslocadas um pouco à direita e escritas de modo a fazer passar a haste vertical da cruz através do nome de Frei Leão. De forma muito simples, Francisco dá a bênção a seu sofrido companheiro. A invocação pessoal mostra a preocupação materna de Francisco por seu fidelíssimo amigo, pai, confessor e secretário. Leão é sacerdote, Francisco apenas diácono: neste caso, é um não-sacerdote que abençoa o sacerdote. Francisco, ao abençoar, põe-se – e talvez muito conscientemente – na linha dos que, no AT, mediavam a bênção de Javé e na liturgia da Igreja invocavam, em situações especiais, a bênção de Deus sobre uma pessoa ou sobre o povo. Fazendo isso, o Santo põe em prática uma habilitação dada pelo batismo e para a qual tinha sido encarregado como diácono. Do “Vós” de Deus ao “tu” do irmão Os Louvores de Deus, como se encontram no frontispício do pergaminho, repetem por mais de trinta vezes a invocação “vós”, e nunca usam a palavra “eu”. Diante da riqueza e da grandeza de Deus, engrandecidas com títulos e invocações sempre renovados, coloca-se como que de lado. Mesmo mudando as palavras, o que sobra é o dom de si ao inalcansável e inefável VÓS. Na Bênção, em vez disso, Francisco sai dessa imersão mística do Vós divino para se voltar ao tu do irmão. Mesmo nesse caso o eu do Santo fica completamente em segundo plano. O que interessa é só o Senhor e seu irmão Leão. No breve texto de bênção repete-se sete vezes o pronome “tu-te”, estendendo assim o seu voltar-se do Vós de Deus para o tu do irmão sofrido e aflito. Francisco não dá a seu companheiro nenhuma sugestão prática sobre o que tem que fazer; diante de Leão comporta-se de forma discreta, abençoando-o “apenas”. Como na outra parte do pergaminho tinha encaminhado para a grandeza e bondade de Deus, agora só põe Frei Leão sob a bênção do mesmo misericordioso protetor, guarda e defensor, para que Ele volte seu rosto para o irmão e dele tenha misericórdia. O rosto do Senhor, que iluminou as trevas de Francisco em São Damião, ilumine também a escuridão de Frei Leão. Aquele rosto que, na figura do serafim, tinha marcado em Francisco as feridas do amor, inflame de amor também Frei Leão. Aquele que é “segurança e descanso” dê também a Frei Leão shalom, paz e bem. O fiel companheiro, desencorajado pela visão da cruz experimentada por Francisco, foi englobado, através da bênção, no encontro que o Santo teve com Cristo. Francisco quer fazê-lo participar daquela graça que lhe foi dada através de sua personalíssima bênção, reforçada com o “Sinal do Tau com a cabeça”. Uma bênção consoladora para Frei Leão e para nós Independentemente de como Frei Leão interpretou o desenho posto no fim da bênção, é certo que o gesto de bênção e as palavras de Francisco foram para ele um sinal de consolação, como ainda é para nós hoje. O significado central do pergaminho todo pode ser assim resumido: uma consolação para todo mundo. Toda pessoa pode percebê-la como dirigida a si. Ainda que os Louvores de Deus sejam uma personalíssima oração de Francisco, escrita por ele depois de receber os estigmas, não se restringem àquela situação mas, como oração, valem para todo tempo e estão abertos a todas as pessoas. Os louvores litânicos apresentam a grandeza e a bondade de Deus e convidam a entrar com Francisco na santidade, na grandeza, no amor, na mansidão e na bondade de Deus e isso acontece quando levamos Cristo no nosso coração e no nosso corpo através do amor e da consciência pura e sincera, e o geramos através do santo agir, que deve resplandecer como exemplo para os outros (2CtFi 53). Ainda que em nós não foram impressos os estigmas do crucificado de modo visível, cada um tem suas feridas que podem salvar, que podem tornar-se fonte de salvação para si e para os outros. A cada um que se deixa ferir em nome de Cristo e que leva em si a sua cruz, Francisco repete o que disse a Leão: também tu estás marcado com a cruz de Cristo e por isso és abençoado. És um possuído de Deus e estás sob a proteção dele. Assim todos os que tentam seguir Jesus na fadiga de sua vida podem ler a bênção de Francisco como endereçada a eles, ver-se marcados com o Tau e poder assim afirmar: este Tau é a cruz, o sinal de Cristo, do cordeiro que foi imolado. Através dele também eu sou redimido. Posso me contar entre aqueles sobre os quais foi assinalado o tau, que vieram da grande tribulação e lavaram suas roupas no sangue do cordeiro. Agora eles vivem em comunhão com ele e a seu serviço. E o cordeiro vai conduzi-los às fontes da água da vida, e Deus vai enxugar suas lágrimas. Francisco tornou-se um sinal também para mim. Nele tornaram-se visíveis os sinais da paixão de Cristo. Ele é como o anjo do sexto selo que segura o juízo de condenação de Deus e sela e abençoa os servos de Deus. Na cruz de Cristo também eu sou assinalado e salvo. E como Francisco posso agora também eu abençoar os outros e tornar-me sinal e sentido, paz e salvação para eles. Eu, o seu irmão Leão, e os nossos irmãos e nossas irmãs. Há diversos modos de bênção: a bênção do olhar, da mão, da palavra e da oração. Quem segue esses caminhos torna-se uma bênção para os outros. Como eu poderia ser uma “ponte de bênção” tornando-me um sinal de esperança para os outros?